Resumo
Introdução: a Endocardite Infecciosa (EI) é uma doença incomum que possui uma alta morbimortalidade, sendo mais comumente associada a microrganismos gram-positivos, e apenas 4% com etiologia por microrganismos gram-negativos, como as enterobactérias. A EI por Proteus mirabillis, enterobactéria gram-negativo, é rara, de difícil diagnóstico e de tratamento ainda controverso, sendo necessária uma rápida intervenção para evitar complicações severas. Objetivo: relatar o caso de um paciente com EI importante de etiologia bacteriana por Proteus mirabillis. Método: as informações obtidas deram-se por meio do acesso a revisão de prontuário, registro de exames de imagem e revisão de literatura. Resultado: paciente previamente hígido, apresentou-se ao pronto socorro com astenia e dispneia progressiva há 2 meses. Ao ecocardiograma demonstrou-se dupla lesão valvar aórtica grave em paciente sintomático, sendo indicado cirurgia para realização de troca valvar. Enquanto aguardava pelo procedimento cirúrgico, paciente apresentou bacteremia secundária a flebite em acesso venoso periférico, hemocultura por S. epidermidis, sendo iniciado esquema antibiótico guiado por cultura e antibiograma. Apesar do manejo ideal, paciente permaneceu febril e com marcadores inflamatórios aumentados. Oito dias após infecção, novas hemoculturas demonstraram-se presença de Proteus mirabillis, sendo administrado esquema terapêutico guiado, mas sem resposta satisfatória. Submetido a um novo ecocardiograma, não demonstrou trombos ou vegetações. Após múltiplos esquemas antibióticos e afastados outros focos infecciosos, um novo ecocardiograma identificou uma imagem laminar em raiz da aorta sugestiva de abscesso. Optado por cirurgia de emergência ao 28º dia de internação, confirmou-se o diagnóstico de abscesso valvar, que apesar de realizado trocar valvar, paciente evoluiu desfavoravelmente a óbito. Conclusão: o presente relato demonstra a associação rara e desafiadora de EI desencadeada por Proteus mirabillis que, mesmo com o manejo antimicrobiano combinado, não foi possível impedir o desenvolvimento de um abscesso paravalvar que levou o paciente ao óbito.
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